"E COMO EM UM JOGO, ELES DECIDIRAM O PASSADO E CONTINUAM DEFININDO O PRESENTE"
CONTEXTUALIZANDO OS CONFLITOS
GUERRA DO GOLFO
Dia
17 de janeiro de 1991, já era noite em Bagdá, quando os primeiros mísseis estadunidenses
cruzaram os céus da cidade. Começava, então, a Guerra do Golfo com o bombardeio
maciço dos aviões aliados, principalmente dos Estados Unidos, sobre o Iraque e
o Kuwait ocupado pelas tropas iraquianas. Nesse momento, dos escombros da Antiga
Ordem Mundial (Guerra Fria), nascia uma profunda insegurança nas relações internacionais,
em que o dançar histórico era mais rápido do que a história e os países podiam
acompanhar e entender. Nesse sentido, faz-se mister ressaltar como a historiografia
e a teoria das relações internacionais viram emergir essa nova realidade. Assim,
a Guerra do Golfo foi o conflito que ocorreu dentro de grandes transformações verificadas
nas relações internacionais na virada das décadas de 1980 para 1990. Ocorre que
a Guerra do Golfo é colocada pela imprensa como sendo uma guerra sem grande
importância histórica, apenas conhecida pelas armas inteligentes, bombardeios
cirúrgicos e alta tecnologia, desconhecendo talvez a sua real dimensão. A própria
historiografia também não trata a Guerra do Golfo como um fato histórico de grande
relevância no cenário internacional. É bem verdade que não se deve superdimensioná-la,
carregando-a de um peso histórico que não possui, mas também não se pode
relegá-la ao esquecimento.
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Soldados americanos fazendo abordagem. |
Assim sendo, foi de suma importância estudar tal temática
para compreender melhor o mundo. Objeto: Trata-se da Guerra do Golfo ocorrida
em 1991, na região do Oriente Médio causada por uma série de questões como
petróleo, interesses estadunidenses na mencionada área, equilíbrio geopolítico
regional e postura do governo iraquiano. Fez-se um balanço historiográfico
acerca do mencionado tema, demonstrando como a historiografia e as relações
internacionais trabalham-no. Assim, a Guerra do Golfo, em 1991, foi o conflito
que ocorreu dentro de grandes transformações verificadas nas relações
internacionais no ano de 1991, no caso a crise do socialismo real, o fim da Guerra
Fria e o consenso, nunca dantes existido, na atuação da ONU, durante o citado conflito,
o que comprova uma mudança no equilíbrio geopolítico regional. A pesquisa em
questão mostrou que a Guerra do Golfo foi um sintoma de mudança no cenário das
relações internacionais. Depois se objetivou mostrar o quanto interessava aos
Estados Unidos intervir no Kuwait e no Iraque almejando resguardar os seus interesses
geopolíticos e econômicos, à luz da Doutrina Powell do Departamento de Estado
dos Estados Unidos.
A
GUERRA NO IRAQUE
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Ilustração: Nik Neves e Marina C |
A Guerra no
Iraque tem inúmeras causas. Algumas mais referidas à conjuntura, outras ligadas
a fatores estruturais. Umas afetam a economia, outras a política, a religião, a
cultura, e também há quem atribua certa importância a fatores psíquicos.
De toda forma,
algumas hipóteses podem figurar entre os principais motivos da incursão
norte-americana ao Golfo Pérsico: 1) A Guerra é um ótimo negócio para os
Estados Unidos, e um bom negócio para seus aliados Os valores envolvidos são
bilionários. Antes de tudo, há o petróleo. O Iraque detém a segunda produção
mundial desse insumo que a economia americana importa de forma abundante. A
intervenção da coalizão ocidental certamente provocará oscilações importantes
nos preços, seja para baixo ou para cima, provocando movimentos financeiros de
magnitude sísmica, em boa medida direcionados pelos novos controladores da
produção, os norte-americanos. A Guerra é por si mesma um empreendimento
gigantesco. No último dia 25 de março, o presidente Bush enviou ao congresso um
pedido de suplementação para os esforços bélicos da ordem de oitenta bilhões de
dólares. Essa quantidade astronômica de dinheiro significa aproximadamente 10%
do PIB anual brasileiro, e seria consumida nos combates do Oriente Médio em
aproximadamente noventa dias. Além disso, os recursos orçamentários regulares
da máquina bélica americana montam a 390 bilhões de dólares ao ano, num total
de 900 bilhões gastos no mundo todo. Finalmente, depois de dispender todo esse
dinheiro para arrasar o Iraque, há a necessidade de reconstruí-lo, obra de
cálculo igualmente bilionário, para a qual o governo americano já convidou um
grupo de empresas, é claro, igualmente americanas.
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Guerra no Golfo Pérsico - EUA lideram coalisão contra o Iraque |
2) A guerra
estabiliza e legitima um governo que, antes dos atentados de 11 de setembro de
2001, colhia baixa taxa de aprovação, é bom lembrar que a última disputa
presidencial americana foi marcada por forte questionamento quanto à
legitimidade do eleito. Independentemente do complexo sistema eleitoral dos EUA
contemplar matematicamente a possibilidade de eleição de um presidente
ligeiramente minoritário, o fato do colégio eleitoral do estado da Flórida,
governado pelo irmão de George Jr., Jeb Bush ter sido decisivo na vitória
trouxe ao menos um colorido de suspeita ao pleito. Os atentados de 11 de setembro
permitiram que o presidente se apresentasse aos seus concidadãos como o
portador de um programa tão elementar, quanto eficaz: vingar a ofensa pela
força. Na verdade, os aviões arremessados contra as Torres Gêmeas e o Pentágono
foram o sinal de fogo para a escalada armamentista que se iniciou no Afeganistão
e sabe-se lá aonde irá parar
3) A guerra
realiza as pretensões geopolíticas dos norte-americanos Desde os anos oitenta,
dois fenômenos confluentes podem ser observados. Por um lado os Estados nacionais
enfraquecem sua dimensão territorial em todo globo ao ceder espaço à atuação de
organismos multilaterais. Por outro lado o Estado norte-americano além de
reforçar a presença de seus interesses econômicos em escala global, atua como
guarda armada de uma concepção, no mínimo exótica, de democracia, e o faz ao
arrepio dos mesmos organismos multilaterais. Foi assim em Granada, em 1983,
quando o regime de tendência pró-cubana, aparentemente aceito pelos granadinos,
foi derrubado pelos mariners. Da mesma forma ocorreu no Panamá, com a deposição
de Noriega pelos comandos americanos.
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Esses números representam o balanço da guerra para os Estados Unidos e trouxeram, como consequência, oposição da opinião pública dentro do próprio país. |
Essa cruzada levou as tropas americanas à
Bósnia e ao Golfo Pérsico em 1991, à Somália em 1993 a ao Afeganistão em 2001. Em
todas essas intervenções os EUA fincaram bases e contingentes militares
estrategicamente postados, operando, quando necessário, à fragmentação de
Estados soberanos, através do acirramento dos ódios étnicos e regionais. Parece
ser esse o objetivo da ofensiva a partir de território curdo do sul da Turquia
ao norte iraquiano. Um Estado tampão curdo seria a sede ideal para um
dispositivo militar americano, muito útil na hipótese bastante provável de
prolongada instabilidade política no Iraque.
Como todas as
hipóteses levam a alguma conclusão, preliminarmente podemos afirmar que o
unilateralismo americano veio para ficar. Ou seja, ele não é uma política
eventual, senão a doutrina oficial, fato que coloca um limite de eficácia aos
colegiados como a ONU e mesmo aos blocos econômicos regionais. A sua
materialização sob a batuta de George Bush Jr. Mobiliza hoje milhares de
homens, milhões de armas e bilhões de dólares. Resta saber quem pagará o custo
disso no futuro.
FAIXA
DE GAZA: ISRAEL x PALESTINA
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Cronologia do conflito e "divisão" do território. |
Nos últimos dias popularizou-se o conflito entre Israel e Palestina,
tornando-se o assunto principal em diversas “redes sociais” com milhares de
compartilhamentos de vídeos, imagens, textos e etc. O posicionamento popular é
de muita valia para atual conjuntura, além de envolver um contexto histórico
que é preciso ser entendido. Mas o que de fato acontece? O espaço geográfico
que, até 1948, pertencia completamente à Palestina, está hoje repartida em três
regiões, uma corresponde a Israel e as outras duas, a Faixa de Gaza e
a Cisjordânia, habitadas em grande parte por árabes de origem palestina, mas
que ainda continua ocupado por israelenses, na ausência de um tratado de
paz definitivo.
Os palestinos encontram-se atualmente dispersos nos países
árabes ou em territórios reservados aos refugiados. Porém nos últimos dias o
conflito teve uma repercussão internacional pelo grande número de vítimas. O
número de mortes até o momento entre Palestinos é de 678 pessoas e de
Israelense 32 militares. Evidencia-se uma determinada diferença entre as duas
nações, no que se refere a questão de armamentos , enquanto Israel combate com
caças F-16, fuzis de última geração e soldados altamente treinados. A
resistência da Palestina se da por meio de pedras e pau. A expressão que
reflete essa diferença está nos números de mortos divulgados nos últimos dias.
Existem diversas teorias que constituem o campo de debate sobre o conflito,
fala-se muito sobre Sionismo, a ideologia desenvolvida na segunda metade do
século XIX pelo jornalista e pensador político austríaco Theodor Herzl
(1860-1904), que defende a criação de um Estado nacional para os judeus na
Palestina.
No último dia 23, a ONU (Organização das Nações Unidas) composta por
nada menos que 193 países membros, realizou uma resolução do Conselho
de Direitos Humanos que determina a formação de uma comissão internacional para
investigar os ataques israelenses à Palestina, dos 30 votos apenas os Estados
Unidos da América posicionou-se contra a criação da comissão internacional para
investigar os ataques Israelenses. Enquanto aguarda-se um tratado de paz para
se estabelecer na região, o número de vítimas aumenta de acordo com os
bombardeios diários e massacres violentos. No Brasil diversos movimentos
Sociais e Partidos Políticos, além de figuras públicas, vem realizando
atos em favor da Palestina e exigindo uma resposta imediata da ONU sobre o
caso, enquanto o conflito se torna cada vez mais violento e o número de vítimas
só aumenta. Essa matéria é uma entre milhares que coloca em pauta o conflito da
Palestina, contudo, sabe-se que os posicionamentos políticos e os estudos
aprofundados permitem uma melhor compreensão sobre a temática, neste sentido a
reflexão sobre a possibilidade de compreender e contribuir para a instauração
de um estado de paz naquela região não é uma determinação territorial, isto é,
tanto na Cisjordânia, em Gaza ou em outros países o Brasil tem possibilidade de
intervir neste conflito, pois a guerra está colocada naquele território, mas,
afinal, a paz não deve ser um objetivo universal entre os povos?
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Mulher palestina protege as filhas ao passar por um soldado israelense armado. |
Referências: Texo síntese,
Nanda Luxemburg, professora de Geografia, autora e colunista do blog Um quê de
Marx. Postagem baseada na obra de Edward W. Said, "Cultura e
Imperialismo"- Editora: Companhia de Bolso. A Guerra do Golfo: os Estados Unidos e as Relações Internacionais,
Sandro Heleno Morais Zarpelão (clique aqui e acesse o texto completo). Guerra
do Iraque: Guerra no Iraque: três causas e uma conclusão, Ângelo Del
Vecchio (clique aqui e acesse o texto completo). Israel x Palestina: Faixa de Gaza,
repercussão de um conflito, Jonatan Afonso (clique aqui e acesse o texto
completo).
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