Pular para o conteúdo principal

A IMPORTÂNCIA DO PROCESSO HISTÓRICO NA INTERPRETAÇÃO DO PRESENTE E NA IDEALIZAÇÃO DO FUTURO

"E COMO EM UM JOGO, ELES DECIDIRAM O PASSADO E CONTINUAM DEFININDO O PRESENTE" 
"O imperialismo moderno consistiu num aglomerado de elementos, nem todos de mesmo peso, que podem ser remontados, a todas as épocas da história. Talvez suas causas últimas, ao lado da guerra, encontrem-se não tanto em necessidades materiais tangíveis e sim nas difíceis tensões da sociedades distorcidas por divisões de classe, refletindo em ideias distorcidas na mente dos homens"- Edward Said.


A interpretação do presente é inspirada no passado, a única incerteza que se pode ter é somente quando este passado está "morto e enterrado" e nada se conhece do mesmo. O sentido do passado remete a percepção do  foi e continua sendo, não há maneiras de isolar "o passado do presente", pois a forma com que interpretamos o tempo pretérito, ela se revela em nossa visão de presente e o idealismo acerca do "que virá". Os conflitos/guerras abaixo confirmam essa reflexão, e nos possibilita pensar no "entrelaçamento entre a histórias (passadas e presentes).
O fomento do imperialismo vem ao encontro dessa correlação (pretérito e presente), Edward Said em sua obra nos incita a pensar a questão imperialista além das questões econômicas e políticas, e sim adicionar o fator "cultural" como mais um forte aspecto de ódio, transfigurado em invasões, conflitos, mortes e pilhagens.





CONTEXTUALIZANDO OS CONFLITOS

GUERRA DO GOLFO

Dia 17 de janeiro de 1991, já era noite em Bagdá, quando os primeiros mísseis estadunidenses cruzaram os céus da cidade. Começava, então, a Guerra do Golfo com o bombardeio maciço dos aviões aliados, principalmente dos Estados Unidos, sobre o Iraque e o Kuwait ocupado pelas tropas iraquianas. Nesse momento, dos escombros da Antiga Ordem Mundial (Guerra Fria), nascia uma profunda insegurança nas relações internacionais, em que o dançar histórico era mais rápido do que a história e os países podiam acompanhar e entender. Nesse sentido, faz-se mister ressaltar como a historiografia e a teoria das relações internacionais viram emergir essa nova realidade. Assim, a Guerra do Golfo foi o conflito que ocorreu dentro de grandes transformações verificadas nas relações internacionais na virada das décadas de 1980 para 1990. Ocorre que a Guerra do Golfo é colocada pela imprensa como sendo uma guerra sem grande importância histórica, apenas conhecida pelas armas inteligentes, bombardeios cirúrgicos e alta tecnologia, desconhecendo talvez a sua real dimensão. A própria historiografia também não trata a Guerra do Golfo como um fato histórico de grande relevância no cenário internacional. É bem verdade que não se deve superdimensioná-la, carregando-a de um peso histórico que não possui, mas também não se pode relegá-la ao esquecimento. 

Soldados americanos fazendo abordagem.
Assim sendo, foi de suma importância estudar tal temática para compreender melhor o mundo. Objeto: Trata-se da Guerra do Golfo ocorrida em 1991, na região do Oriente Médio causada por uma série de questões como petróleo, interesses estadunidenses na mencionada área, equilíbrio geopolítico regional e postura do governo iraquiano. Fez-se um balanço historiográfico acerca do mencionado tema, demonstrando como a historiografia e as relações internacionais trabalham-no. Assim, a Guerra do Golfo, em 1991, foi o conflito que ocorreu dentro de grandes transformações verificadas nas relações internacionais no ano de 1991, no caso a crise do socialismo real, o fim da Guerra Fria e o consenso, nunca dantes existido, na atuação da ONU, durante o citado conflito, o que comprova uma mudança no equilíbrio geopolítico regional. A pesquisa em questão mostrou que a Guerra do Golfo foi um sintoma de mudança no cenário das relações internacionais. Depois se objetivou mostrar o quanto interessava aos Estados Unidos intervir no Kuwait e no Iraque almejando resguardar os seus interesses geopolíticos e econômicos, à luz da Doutrina Powell do Departamento de Estado dos Estados Unidos.


A GUERRA NO IRAQUE

Ilustração: Nik Neves e Marina C

A Guerra no Iraque tem inúmeras causas. Algumas mais referidas à conjuntura, outras ligadas a fatores estruturais. Umas afetam a economia, outras a política, a religião, a cultura, e também há quem atribua certa importância a fatores psíquicos.
De toda forma, algumas hipóteses podem figurar entre os principais motivos da incursão norte-americana ao Golfo Pérsico: 1) A Guerra é um ótimo negócio para os Estados Unidos, e um bom negócio para seus aliados Os valores envolvidos são bilionários. Antes de tudo, há o petróleo. O Iraque detém a segunda produção mundial desse insumo que a economia americana importa de forma abundante. A intervenção da coalizão ocidental certamente provocará oscilações importantes nos preços, seja para baixo ou para cima, provocando movimentos financeiros de magnitude sísmica, em boa medida direcionados pelos novos controladores da produção, os norte-americanos. A Guerra é por si mesma um empreendimento gigantesco. No último dia 25 de março, o presidente Bush enviou ao congresso um pedido de suplementação para os esforços bélicos da ordem de oitenta bilhões de dólares. Essa quantidade astronômica de dinheiro significa aproximadamente 10% do PIB anual brasileiro, e seria consumida nos combates do Oriente Médio em aproximadamente noventa dias. Além disso, os recursos orçamentários regulares da máquina bélica americana montam a 390 bilhões de dólares ao ano, num total de 900 bilhões gastos no mundo todo. Finalmente, depois de dispender todo esse dinheiro para arrasar o Iraque, há a necessidade de reconstruí-lo, obra de cálculo igualmente bilionário, para a qual o governo americano já convidou um grupo de empresas, é claro, igualmente americanas.
Guerra no Golfo Pérsico - EUA lideram coalisão contra o Iraque 
2) A guerra estabiliza e legitima um governo que, antes dos atentados de 11 de setembro de 2001, colhia baixa taxa de aprovação, é bom lembrar que a última disputa presidencial americana foi marcada por forte questionamento quanto à legitimidade do eleito. Independentemente do complexo sistema eleitoral dos EUA contemplar matematicamente a possibilidade de eleição de um presidente ligeiramente minoritário, o fato do colégio eleitoral do estado da Flórida, governado pelo irmão de George Jr., Jeb Bush ter sido decisivo na vitória trouxe ao menos um colorido de suspeita ao pleito. Os atentados de 11 de setembro permitiram que o presidente se apresentasse aos seus concidadãos como o portador de um programa tão elementar, quanto eficaz: vingar a ofensa pela força. Na verdade, os aviões arremessados contra as Torres Gêmeas e o Pentágono foram o sinal de fogo para a escalada armamentista que se iniciou no Afeganistão e sabe-se lá aonde irá parar
3) A guerra realiza as pretensões geopolíticas dos norte-americanos Desde os anos oitenta, dois fenômenos confluentes podem ser observados. Por um lado os Estados nacionais enfraquecem sua dimensão territorial em todo globo ao ceder espaço à atuação de organismos multilaterais. Por outro lado o Estado norte-americano além de reforçar a presença de seus interesses econômicos em escala global, atua como guarda armada de uma concepção, no mínimo exótica, de democracia, e o faz ao arrepio dos mesmos organismos multilaterais. Foi assim em Granada, em 1983, quando o regime de tendência pró-cubana, aparentemente aceito pelos granadinos, foi derrubado pelos mariners. Da mesma forma ocorreu no Panamá, com a deposição de Noriega pelos comandos americanos. 
Esses números representam o balanço da guerra para os Estados Unidos e trouxeram, como consequência, oposição da opinião pública dentro do próprio país.
Essa cruzada levou as tropas americanas à Bósnia e ao Golfo Pérsico em 1991, à Somália em 1993 a ao Afeganistão em 2001. Em todas essas intervenções os EUA fincaram bases e contingentes militares estrategicamente postados, operando, quando necessário, à fragmentação de Estados soberanos, através do acirramento dos ódios étnicos e regionais. Parece ser esse o objetivo da ofensiva a partir de território curdo do sul da Turquia ao norte iraquiano. Um Estado tampão curdo seria a sede ideal para um dispositivo militar americano, muito útil na hipótese bastante provável de prolongada instabilidade política no Iraque.
Como todas as hipóteses levam a alguma conclusão, preliminarmente podemos afirmar que o unilateralismo americano veio para ficar. Ou seja, ele não é uma política eventual, senão a doutrina oficial, fato que coloca um limite de eficácia aos colegiados como a ONU e mesmo aos blocos econômicos regionais. A sua materialização sob a batuta de George Bush Jr. Mobiliza hoje milhares de homens, milhões de armas e bilhões de dólares. Resta saber quem pagará o custo disso no futuro.
  
FAIXA DE GAZA: ISRAEL x PALESTINA

Cronologia do conflito e "divisão" do território.

Nos últimos dias popularizou-se o conflito entre Israel e Palestina, tornando-se o assunto principal em diversas “redes sociais” com milhares de compartilhamentos de vídeos, imagens, textos e etc. O posicionamento popular é de muita valia para atual conjuntura, além de envolver um contexto histórico que é preciso ser entendido. Mas o que de fato acontece? O espaço geográfico que, até 1948, pertencia completamente à Palestina, está hoje repartida em três regiões, uma corresponde a Israel e as outras duas, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, habitadas em grande parte por árabes de origem palestina, mas que ainda continua ocupado por israelenses, na ausência de um tratado de paz definitivo.
Os  palestinos encontram-se atualmente dispersos nos países árabes ou em territórios reservados aos refugiados. Porém nos últimos dias o conflito teve uma repercussão internacional pelo grande número de vítimas. O número de mortes até o momento entre Palestinos é de 678 pessoas e de Israelense 32 militares. Evidencia-se uma determinada diferença entre as duas nações, no que se refere a questão de armamentos , enquanto Israel combate com caças F-16, fuzis de última geração e soldados altamente treinados. A resistência da Palestina se da por meio de pedras e pau. A expressão que reflete essa diferença está nos números de mortos divulgados nos últimos dias. Existem diversas teorias que constituem o campo de debate sobre o conflito, fala-se muito sobre Sionismo, a ideologia desenvolvida na segunda metade do século XIX pelo jornalista e pensador político austríaco Theodor Herzl (1860-1904), que defende a criação de um Estado nacional para os judeus na Palestina.
No último dia 23, a ONU (Organização das Nações Unidas) composta por nada menos que 193 países membros, realizou uma resolução do Conselho de Direitos Humanos que determina a formação de uma comissão internacional para investigar os ataques israelenses à Palestina, dos 30 votos apenas os Estados Unidos da América posicionou-se contra a criação da comissão internacional para investigar os ataques Israelenses. Enquanto aguarda-se um tratado de paz para se estabelecer na região, o número de vítimas aumenta de acordo com os bombardeios diários e massacres violentos. No Brasil  diversos movimentos Sociais e Partidos Políticos, além de figuras públicas, vem  realizando atos em favor da Palestina e exigindo uma resposta imediata da ONU sobre o caso, enquanto o conflito se torna cada vez mais violento e o número de vítimas só aumenta. Essa matéria é uma entre milhares que coloca em pauta o conflito da Palestina, contudo, sabe-se que os posicionamentos políticos e os estudos aprofundados permitem uma melhor compreensão sobre a temática, neste sentido a reflexão sobre a possibilidade de compreender e contribuir para a instauração de um estado de paz naquela região não é uma determinação territorial, isto é, tanto na Cisjordânia, em Gaza ou em outros países o Brasil tem possibilidade de intervir neste conflito, pois a guerra está colocada naquele território, mas, afinal, a paz não deve ser um objetivo universal entre os povos?

 Mulher palestina protege as filhas ao passar por um soldado israelense armado.










Referências: Texo síntese, Nanda Luxemburg, professora de Geografia, autora e colunista do blog Um quê de Marx. Postagem baseada na obra de Edward W. Said, "Cultura e Imperialismo"- Editora: Companhia de Bolso. A Guerra do Golfo: os Estados Unidos e as Relações Internacionais, Sandro Heleno Morais Zarpelão (clique aqui e acesse o texto completo). Guerra do Iraque: Guerra no Iraque: três causas e uma conclusão,  Ângelo Del Vecchio (clique aqui e acesse o texto completo). Israel x Palestina: Faixa de Gaza, repercussão de um conflito, Jonatan Afonso (clique aqui e acesse o texto completo).  

É permitido o compartilhamento desta publicação e até mesmo a edição da mesma. Sem fins lucrativos e cite a fonte. Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.
Licença Creative Commons


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

CHARGE: A indústria e a alienação do trabalho

A indústria e a alienação do trabalho A charge de Caulos, de 1976, apresenta uma crítica bem humorada ao processo de alienação do trabalho sofrido pelos operários nas fábricas. Fonte original: Caulos. Só dói quando eu respeiro. Porto Alegre: L&PM, 1976.p. 65. Digitalização: Fernanda E. Mattos, autora e colunista do blog Um quê de Marx. É permitido o compartilhamento desta publicação e até mesmo a edição da mesma. Sem fins lucrativos e cite a fonte. Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional .

''A ESCOLA DO MUNDO AO AVESSO'' - De pernas pro ar, Eduardo Galeano + Download livro em PDF

''O MUNDO AO AVESSO'' Eduardo Hughes Galeano (Montevidéu, 3 de setembro de 1940) é um jornalista e escritor uruguaio. É autor de mais de quarenta livros, que já foram traduzidos em diversos idiomas. Suas obras transcendem gêneros ortodoxos, combinando ficção, jornalismo, análise política e História. “Esse livro é uma patada em cima da outra”. E m “De Pernas Pro Ar”, Galeano exerce todo seu conhecimento da cultura e política da América Latina sob o olhar atento de alguém que, desde 1971, com “As veias abertas da América Latina” vem criticando a exploração de nossa sociedade pelo assim por Deleuze chamado de Capitalismo Mundial Instituído. O mundo ao avesso é um mundo trágico, onde tudo acontece, um mundo onde não há resistência e sim apenas conformidade e visões distorcidas, em outras palavras, a escola do mundo ao avesso é a "contra escola existente". "O mundo ao avesso gratifica o avesso: despreza a honestidade, ...

"A carta do povo", manifesto enviado ao Parlamento inglês em 1838

"A carta do povo", o manifesto enviado ao Parlamento inglês em 1838. "A carta do povo", símbolo da organização política operária inglesa.  A influência do cartismo A influência do movimento cartista foi, portanto, decisiva para o surgimento do "comunismo operário". O cartismo, por sua vez, testemunha o impetuoso surgimento da classe operária no cenário social europeu¹.  Glossário Censitário: critério que exige uma determinada renda particular do processo eleitoral. Subversivo: que expressa ideias e opiniões buscando a transformação da ordem estabelecida. Texto síntese e Org. Fernanda E. Mattos, autora e colunista do Blog Um quê de Marx Blog. Postagem baseada na coleção: História, Editora: Iscipione. ¹ Referência utilizada da Introdução de: "Manifesto comunista" p.12. Editora: Boitempo. É permitido o compartilhamento desta publicação e até mesmo a edição da mesma. Sem fins lucrativos e cite a fonte. Crea...