"FARMÁFIA'', A DITADURA DOS LABORATÓRIOS- “A lógica mercantil deve ser secundária e o direito da cura deve ser democrático”.
A ditadura dos laboratórios multinacionais
Hoje existem poucas farmacêuticas mundiais
produtoras de remédios, as consequências do monopólio dessa indústria podem ser
sentidas através de alguns problemas. Um deles, e o principal, é a distorção do
significado da saúde como um direito humano básico e inalienável. As grandes empresas laboratoriais seguem a
lógica ditatorial do capital e enxergam a saúde da população mundial como algo
subalterno, e o mercado, como um Deus. O resultado disso é: a saúde virou uma
mercadoria.
O fato de essas empresas seguirem a lógica
do mercado causam as chamadas “doenças negligenciadas”. Essas doenças são as
que há tempos existem nas nações subdesenvolvidas, mas nunca foram extintas ou
curadas, simplesmente porque a população e o governo desses países não têm
recursos para comprar os remédios e formar um mercado forte para essas
indústrias farmacêuticas. Assim, a indústria
privilegia os investimentos na pesquisa e desenvolvimento de medicamentos para
doenças que afetam a população mais rica.
Em 2011, o prêmio Nobel de medicina, Richard J.
Roberts declarou durante uma entrevista que os remédios que curam não são rentáveis e por isso não são desenvolvidos pelas farmacêuticas. A elas interessa
desenvolver medicamentos que não curem por completo, e devem ser consumidos de
forma serializada, de modo que o paciente experimente uma melhora que
desapareça quando deixar de tomar o medicamento. Ou seja, as
farmacêuticas literalmente atrasam o progresso científico na cura de doenças
para aumentarem os seus lucros.
Para mostrar ainda mais a inversão de valores
causados pela lógica capitalista atual, um recente estudo estatístico mostrou
como a indústria farmacêutica nos EUA investe mais em marketing do que em
pesquisa e desenvolvimento de novos produtos. Os gastos dos grandes
laboratórios com marketing superaram os USD 14 bilhões em 2004. A maior parte desses
gastos refere-se a marketing
direto, voltado aos profissionais
da saúde, e influencia diretamente a prescrição de medicamentos pelos médicos.
A principal conclusão dos autores é a de que as empresas farmacêuticas nos EUA
não são as que mais investem em pesquisa e desenvolvimento, mas são as que
apresentam as maiores taxas de lucros líquidos devido a esses investimentos em
marketing.
A única saída para esses abusos causados pelos
interesses das empresas em detrimento dos direitos da população mundial seria a
regulamentação do mercado das drogas lícitas, onde o monopólio fosse sanado ou
controlado no sentido de evitar abusos e paradoxos. Afinal, quando o assunto é
saúde, a lógica mercantil entre empresa e consumidor deve ser secundária e o
direito da cura deve ser democrático.
Richard J. Roberts: "É habitual que as farmacêuticas
estejam interessadas em investigação não para curar, mas sim para tornar
crônicas as doenças com medicamentos cronificadores". Foto de Wally
Hartshorm.
Texto:
Matheus Ramos (BlOG, Ensaio sobre a Política), colunista e colaborador do blog um quê
de Marx.
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