"A identidade como um problema"
O nosso contato com um mundo líquido permeado por diversas identidades (religiosas, culturais, sexuais, profissionais) faz que as crises de identidade nos alcance. Para Bauman a modernidade coloca a identidade em um processo de transformação, causando fenômenos como a crise do "multiculturalismo", como, também fomenta atitudes radicalistas.
Estaríamos em uma possível crise do "multiculturalismo" mundial? No texto anterior refletimos sobre o multiculturalismo e os recentes acontecimentos relacionados ao choque de civilizações e xenofobia.
Hoje, procuro refletir sobre a questão da "identidade", e pertencimento, baseado em Zygmunt Bauman.
Qual a sua concepção acerca da ideia de “identidade”? Seria algo fruto da construção que o indivíduo realiza? Ou se trata de algo imposto a nós?
A ''natividade é uma ficção'' posta a nós através dos mecanismos do Estado moderno. Mas você pode se perguntar, a que fins? O objetivo de impor a “identidade” à uma nação se torna uma forma de controle e coerção, para o Estado é fundamental que o indivíduo tenha o sentimento de pertencimento, desse modo ele conserva a ordem.
"Estado buscava a obediência
de seus indivíduos [...] como a concretização do futuro da nação e a garantia
de sua continuidade [...] Se não fosse o poder do Estado em definir,
classificar, segregar, separar e relacionar o agregado de tradições, dialetos,
leis e modos de vida locais, dificilmente remodelado uma unidade, uma
identidade nacional" p.27
O
Estado Israelense assim como o alemão (período nazista) permite que correlacionamos
a questão de nacionalismo e sua “ideia fictícia” criada para manter a ordem e
para criar a ideia de que “há apenas uma raça pura” (Alemanha nazista), ou que a
terra pertence somente a um povo (Israel).
“As identidades flutuam no ar,
algumas de nossas próprias escolhas, mas outras infladas e lançadas pelas
pessoas em nossa volta, e é preciso estar em alerta [...] há uma probabilidade
de desentendimento eternamente pendente”. p.29
Quando o sentimento nacionalista se transforma em Xenofobia? Eis o ponto central deste texto. Assim quando você vai a uma consulta médica, há uma grande probabilidade do doutor te dizer que: "tudo sem excessos faz bem", utilizemos essa analogia para compreendermos o que "a identidade é sim" um problema, sendo o choque civilizacional uma possibilidade, como o próprio autor afirma, "é preciso que estejamos atentos, pois é um eterno exercício a existência e o convívio de várias "identidades". O mundo em que vivemos é multicultural, e conviver com este fato é uma realidade complexa, e que estamos tendo muitos problemas na atualidade por conta de não haver tolerância.
É fundamental dizer NÃO ao universalismo e aceitar a diversidade para que possamos buscar os aspectos em comum e que tal começarmos pelo principal: "Somos de apenas uma condição: a humana".
Os textos abaixo, representam a questão do nacionalismo e quando este pensamento se torna discurso de ódio, transfigurando-se em atos de intolerância, opressão e até mesmo em ações de extremismo.
ESTADO DE ISRAEL
Semanticamente, sionismo refere-se a dois aspectos: o político e o cultural. A cultura sionista surgiu antes da invasão israelense da Palestina. Este tipo de sionismo contradiz a imigração judaica para Palestina, bem como a fundação de Israel.
Os palestinos encontram-se atualmente dispersos nos países árabes ou em territórios reservados aos refugiados. Porém nos últimos dias o conflito teve uma repercussão internacional pelo grande número de vítimas. O número de mortes até o momento entre Palestinos é de 678 pessoas e de Israelense 32 militares. Evidencia-se uma determinada diferença entre as duas nações, no que se refere a questão de armamentos , enquanto Israel combate com caças F-16, fuzis de última geração e soldados altamente treinados. A resistência da Palestina se da por meio de pedras e pau. A expressão que reflete essa diferença está nos números de mortos divulgados nos últimos dias. Existem diversas teorias que constituem o campo de debate sobre o conflito, fala-se muito sobre Sionismo, a ideologia desenvolvida na segunda metade do século XIX pelo jornalista e pensador político austríaco Theodor Herzl (1860-1904), que defende a criação de um Estado nacional para os judeus na Palestina.
Mito assiduamente cultivado primeiro por sionistas para criar a ficção de que a palestina era um lugar remoto e desolado que esperava que alguém a ocupasse. Inumeráveis notícias e referências ao Estado de Israelna televisão ou na imprensa incluem como adendo que ela seria única autêntica democracia do Oriente Médio. Na realidade, Israel é "tão democrático como pode sê-lo o o estado do APARTHEID na África do Sul".
Esse mito é o da "segurança" como força motriz da política exterior israelense. Os sionistas sustentam que seu estado tem de ser a quarta potência militar do mundo porque Israel viu-se obrigado a se defender da ameaça iminente das masas árabes. O sionismo é ''herdeiro'' da moral das vítimas do holocausto. E o mais difundido e o mais insidioso dos mitos sobre o sionismo. O movimento sionista manteve desde o princípio uma ativa coalizão com o nazismo.
Trecho do texto publicado anteriormente pelo Blog Um quê de Marx
ALEMANHA NAZISTA
Hitler torna-se chanceler em janeiro de 1933, promovendo uma política de estado centralizadora. Os nazistas procuraram submeter todas as instituições políticas e econômicas e toda a cultura à vontade do partido.
Não podia haver separação entre a vida privada e a política: a ideologia devia estar presente em todas as fases da vida cotidiana; todas as organizações deviam ficar sob o controle do partido; não podia haver direitos individuais que tivessem de ser respeitados pelo estado. O partido transformava-se no estado; seus ensinamentos eram a alma da nação alemã.
Ao contrário das monarquias absolutistas do passado, um regime totalitário exige mais do que a obediência exterior às suas ordens; ele busca controlar o íntimo do cidadão, condicionar seus pensamentos, sentimentos e atitudes, de acordo com a ideologia do partido. Exige a fidelidade total e a submissão total.
Para fortalecer o poder do governo central e coordenar a nação sob o nazismo, o regime aboliu os parlamentos nos vários estados alemães e nomeou governadores que asseguravam a realização das diretrizes nazistas por todo o país.
Os nazistas controlaram o serviço público civil e usaram sua máquina para impor seus decretos. Nesse processo de Gleichschaltung (coordenação), não houve maior resistência. Os partidos políticos e os sindicatos desmoronaram sem luta.
O movimento eugenista americano buscou apoiar e incentivar ao redor do mundo aqueles que compartilhavam de suas idéias: “O movimento nos EUA também deu ajuda científica, conforto e apoio a indisfarçáveis racistas em todos os lugares, de Walter Plecker na Virgínia, a incontáveis outros na Europa. A teoria, a prática e a legislação (eugenista) americana eram os modelos...”
“A Alemanha não foi exceção. Os eugenistas alemães estabeleceram relações acadêmicas e pessoais com Davenport e com o establishment eugenista americano, desde a virada do século XX. Mesmo depois da Primeira Guerra Mundial... suas ligações com Davenport e com o resto do movimento americano permaneceram fortes e inabaláveis. Fundações americanas, como a Carnegie Institution e a Rockefeller, patrocinaram generosamente a biologia racial alemã com centenas de milhares de dólares, mesmo quando os americanos estavam nas filas da sopa durante a Grande Depressão.” (Edwin Black, obra citada, pp. 418, 419).
Apesar da Alemanha ter desenvolvido, ao longo dos primeiros vinte anos do século XX, seu próprio conhecimento eugenista, tendo suas próprias publicações a respeito do assunto, os adeptos alemães da eugenia ainda seguiam como modelo os feitos eugenistas americanos, como os tribunais biológicos, a esterilização forçada, a detenção dos socialmente inadequados, e os debates sobre a eutanásia. “Enquanto a elite americana descrevia os socialmente indignos e os ancestralmente incapazes como “bactérias”, “vermes”, “retardados”, “mestiços” e “subumanos”, uma raça superior de nórdicos era progressivamente considerada a solução final para os problemas eugenistas do mundo.” (Um tribunal Biológico: Tratando a Causa, Eugenical News, v. IX, 1924, p. 92, apud Edwin Black, op. cit., p. 419).
Segundo Black, o próprio Hitler, ainda enquanto um jovem cabo, considerava-se um biólogo da raça e defensor da supremacia racial, e era extremamente simpático à eugenia. Enquanto esteve preso, por incitação pública à desordem, Hitler teve acesso a publicações eugenistas didáticas que citavam largamente a Davenport, Popenoe e outros eugenistas radicais americanos.
“Além disso seguia fielmente os escritos de Leon Whitney, presidente da Sociedade Americana de Eugenia, e de Madison Grant, que exaltava a raça nórdica e deplorava sua corrupção pelos judeus, pelos negros, pelos eslavos e por todos os outros quem não tinham cabelo louro e olhos azuis. O jovem cabo alemão chegou mesmo a escreveu uma carta como fã para um deles”. (Autobiography of Leon F. Whitney, texto não publicado, cerca de 1973, p. 205, APS Coleção de Manuscritos, apud Edwin Black, op. cit. p. 420).
Consultar: Eugenia: o pesadelo genético do século XX. Parte III: a ciência nazista
POLÔNIA
Pouco antes da Segunda Guerra irromper, realizou-se um censo na minha Polônia natal, então uma sociedade multiétnica,. Certas partes do país eram habitadas por uma inusitada mistura de grupos étnicos, credos religiosos, línguas e costumes.
Dar uma nova feição a essa mistura, por meio da conversão e assimilações forçadas, numa nação uniforme ou quase uniforme segundo, digamos, o modelo francês, talvez fosse um objetivo energicamente perseguido por uma parte da elite política polonesa, mas de maneira alguma um propósito universalmente aceito e consistentemente apoiado, muito menos um projeto próximo de sua conclusão.
Nesta censo os funcionários, foram, treinados a esperar que para ser humano houvesse uma nação a que ele ou ela pertencesse. Foram instruídos a coletar informações sobre a autentificação nacional de todos os indivíduos do Estado polonês. Em cerca de um milhão de casos os funcionários falharam: os entrevistados simplesmente não entendiam o que era uma nação nem o que significava ter uma nacionalidade. Apesar das pressões- ameaças de multa combinadas com esforços verdadeiramente excepcionais no intuito de explicar o significado de nacionalidade, eles se atinham teimosamente à únicas respostas que lhes faziam sentido, "somos daqui, somos deste lugar".
Depoimento de Zygmnut Bauman, p.25.
Clique aqui e tenha acesso ao texto anterior referente ao "Choque de civilizações".
Texto: Fernanda Eduardo Mattos, autora e colunista do Blog Um quê de Marx. Postagem baseada na obra de Zygmunt Bauman, "Identidade". Editora ZAHAR.
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