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"O DEUS MERCADO''


O MERCADO

"O mercado expulsou os países subdesenvolvidos do paraíso, salvou os países ricos do dilúvio, criou as dez lições de casa e mandou o seu filho para no salvar (governo)"


Nos últimos tempos é normal ouvir-se falar, ou ler-se muito sobre o “mercado”, tudo em nossa volta parece ser dependente do mercado, nosso alimento, nossas vestimentas, nossa educação nossa água. Nos tornamos reféns de um mercado vivo, uma instituição financeira viva e poderosa capaz de desorganizar toda uma nação, capaz de criar contenda entre os povos os colocando sempre uns contra os outros, alimentando a ideia de que devemos ser rivais e produzir mais e mais para alcançar metas que na maior parte das vezes nem entendemos pra que servem, ou por quem realmente foram criadas, apenas sabemos que quando o “mercado” não atinge sua “meta”, aí pagamos a conta (a famosa política de austeridade). A "austeridade" não é a aplicação de uma qualquer "disciplina" na economia, é apenas a forçada diminuição de despesa (e na maior parte dos casos da receita igualmente) dos Estados, como forma de comprimir totalmente o serviço público, garantindo a apropriação pelos interesses privados, amassando mais e mais áreas de negócio e mais e mais lucros. A disciplina imposta à esfera pública é contraposta pela total liberdade de aquisições por privadas, pela desregulação das relações laborais e pela selvajaria da exploração e do desmantelamento dos próprios Estados. A contração do investimento, da despesa e da receita públicas, são afinal de contas, a verdadeira expressão da "austeridade" que impõe brutais constrangimentos econômicos a uns para assegurar a opulência de outros. ¹
De manhã quando ligamos a TV pra assistir os primeiros noticiários do dia, lá está o “mercado” se revelando, dizem: (o mercado reagiu mal com a última medida do governo), como se a voz do mercado fosse à voz de “Deus”, e não é?
Não podemos dizer que o mercado está comandando todo nosso planeta apenas por não podermos defini-lo de forma unitária (ainda). Como não obedecê-lo? Como não segui-lo? Razões pelas quais cada vez mais nos vendemos por menos, pelas regras do mercado plantamos sempre muito e colhemos cada vez menos o que plantamos, aliás, quando podemos colher algo de farto é melhor que se alegre, pois acumular algo pelas regras do mercado é um feito louvável e digno de honrarias. O mercado é frio e não tem piedade de nós, esse “Deus” criado por nós mesmos não nos protege, pelo contrário nos expõe nos obriga a seguir seus mandamentos a risca, e quando nos pecamos ele o “mercado” nos cobra imediatamente um alto preço, para este deus não precisamos morrer para acertarmos as contas por nossos pecados, pelo contrário é aqui e agora, não pecar, “acumular capital” esse é o principal mandamento a ser seguido nessa nova religião que se mostra mais velha de que pensávamos ser.
Seguir crendo que este "Deus" que se mostra frio mude e nos aceite assim como somos é uma utopia, adequarmos-nos a ele então será a saída? Perguntas que somente podemos responder a nós mesmos, cada um seguirá sua doutrina perante o "Deus mercado'', o que sabemos é que este não é de perdoar pecados, e nem esperará o dia do juízo para que acertemos nossas contas pelas contravenções carnais. Fica exposto então que as regras ainda não mudaram acumular “capital” no século XXI é ainda a melhor forma de se conseguir um lugar no céu, pelo menos no céu em que o deus mercado for à autoridade suprema. Busquemos então nos tornarmos cada vez mais “santos”, ou seja, cada vez mais ricos, está é por hora a única forma de encontrar graça aos olhos deste ingrato "Deus"  que nos cerca.





Texto: Jonatan Amaral Afonso, colaborador e colunista do Blog um Quê de Marx.
¹ “Capitalismo para Tótós”, Sobre austeridade- Império Bárbaro BlogspotÉ permitido o compartilhamento desta publicação e até mesmo a edição da mesma. Sem fins lucrativos e cite a fonte. Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.

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