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O ESPAÇO E A LUTA DE CLASSES- "A condição de dominante-dominado" + "I love Paraisópolis"

O ESPAÇO E A LUTA DE CLASSES

Numa sociedade estruturada em classes, a exemplo da sociedade capitalista, o espaço tem por conteúdo as relações contraditórias dessas classes. O conteúdo do espaço é o mesmo da sociedade: as lutas de classes.
Figura retirada do livro: O que é Geografia, de Ruy Moreira.
O espaço organiza-se segundo a estrutura de classes do lugar e a correlação de forças que entre elas se estabeleça. Espaço da existência dos homens, o espaço geográfico traz estampado nas suas frações seu vincado caráter de classe. A própria paisagem encarrega-se de revelar o caráter de classe de uma favela, de um bairro operário ou de um bairro de classe média. Assim, a estrutura de classes da sociedade traduz-se como um espaço estruturado em classes. Cada classe social define seu espaço próprio de existência. Mesmo onde os estratos entrecruzam-se, as diferenciações de classes são espacialmente visíveis. A corriqueira expressão "ponha-se no seu lugar" com que o dominante refere-se ao dominado numa sociedade de c lasses (só uma sociedade de classes há dominantes-dominados, isso é evidente) tem clara significação espacial.

Mas o próprio caráter de dominante-dominado contido na metáfora espacial "ponha-se no seu lugar" revela que antes de uma diferenciação, a estrutura de classes tem uma base na exploração do homem pelo homem. A condição de cominante-dominado de uma estrutura de classes explica por que as lutas são agudas entre elas.

As classes entrechocam-se e a organização do espaço será o que estiver sendo a correlação de forças produzida pela confrontação. Como as lutas de classes exprimem-se como correlação de forças, que pode evoluir na direção da transformação (de caráter revolucionário ou reformista) das estruturas vigentes ou no sentido de sua maior afirmação, as contradições trazem para o nível do espaço o controle do poder de Estado, ele mesmo fruto do caráter estrutural de classes da sociedade. 
Situemos então esta teorização de espaço geográfico na sua concretude capitalista.



"Paraisópolis" retrata a realidade com mais veracidade do que o telejornalismo mal-intencionado da Globo"¹

Engels escreveu quase um século antes de Park e Burgess, mas já havia descrito o sistema concêntrico de divisão das classes sociais no espaço urbano de acordo com as funções que cada um exerce na cidade e identificou as forças e os mecanismos que atuam por meio das instituições capitalistas, como forças geradoras da estrutura urbana. Morar num bairro periférico de baixa renda hoje significa muito mais do que apenas ser segregado, significa ter oportunidades desiguais em nível social, econômico, educacional, renda, cultural².

 
Caio Castro, interpretou "Grego", em "I love Paraisópolis".

 
Paraisópolis, a novela exibida pela emissora Rede Glob em 2015, nasce em cenário de cartão-postal às avessas – vergonha de uma metrópole que exprime, no enquadramento de uma imagem fortuita, o escândalo estrepitoso da desigualdade social. O contraste é manjado, mil vezes fotografado, eventualmente dissimulado, mas é curioso que a discrepância brutal entre a maior favela de São Paulo e seus vizinhos naqueles prédios de varandas em espiral do Morumbi tenha encontrado abrigo na grade da Globo, em horário de razoável prestígio.
























Extraído de: MOREIRA, Ruy. O que é Geografia- Coleção Primeiros Passos. ² Comentário pessoal. ¹ Fala da edição da revista, clique Aqui para acessar a publicação na íntegra no site da Carta Capital. Org da postagem: Fernanda E. Mattos, autora e colunista do Blog Um quê de Marx. É permitido o compartilhamento desta publicação e até mesmo a edição da mesma. Sem fins lucrativos e cite a fonte. Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.













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