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Apoio a leitura de O capital: #04 - “Os métodos idílicos da acumulação primitiva” em: + Marx


História das origens do capitalismo – #04 “Os métodos idílicos da acumulação primitiva” em  + Marx - Material de apoio da leitura de O’Capital I

Ao buscar no dicionário o significado da palavra idílico, aparece o seguinte:  suave, terno. O título dado pela autora do livro: "métodos idílicos", deve ser interpretado como uma analogia, onde o capital exerce uma "coerção muda"- por isso, o termo idílico, para representar a coerção silenciosa do mesmo (será explicado no final do texto.

Esta publicação é uma síntese das ideias da autora do livro “Mais Marx”, e também, uma junção de ideias que auxiliam na explicação da acumulação primitiva do capital, ainda em tempos de uma sociedade em transição, pré-capitalista. E para isso, utilizamos duas obras: “Lutas de classes na Alemanha” e “História do Capitalismo”, ver a lista de referências.

ILUSTRAÇÃO: Robber Barons: "History repeats itself – the robber barons of the Middle Ages and the robber barons of today." (A história se repete - os barões ladrões da Idade Média e os barões ladrões de hoje).

Marx, ilustra a constituição histórica extremamente violenta da moderna relação de capital usando como exemplo a Inglaterra. Curso da dissolução das estruturas feudais, foram criadas as precondições para o modelo de produção capitalista: a separação dos proprietários de seus meios de produção, o que significa dizer a criação de uma massa de trabalhadores livres no duplo sentido (trabalho), de um lado, e os proprietários dos meios de produção (capital), do outro. Há um amplo debate que questiona se a assim chamada acumulação primitiva é um evento histórico singular ou um processo contínuo.

Há um preço a ser pago com o advento da acumulação do capital (a grosso modo), o método idílico está correlacionado à acumulação violenta do capital, é o que confirma a seguinte citação:
Se o dinheiro [...] “vem ao mundo com manchas de sangue numa de suas faces”, o capital nasce escorrendo sangue e lama por todos os poros, da cabeça aos pés. (Livro I, p.829-30)

Na sequência, a autora de “Mais Marx”, exemplifica as consequências da acumulação primitiva, sendo elas:
Expulsão dos camponeses e dos pequenos arrendatários de suas glebas;
Apropriação da terra comum e transformação das terras cultivadas em pastagens;
Cerco, monopolização e concentração de grandes faixas de terra; (mais conhecido como: latifúndio)
Expropriação da igreja católica - pauperismo de seus dependentes; (pauperismo, de forma grosseira, é o mesmo que a extrema miséria, ou absoluta pobreza. Karl Marx em: Lutas de classes na Alemanha, afirma que o pauperismo “é culpa da política” ¹. 
Transformação da propriedade dos clãs feudais em propriedade privada capitalista;
Captura e imposição do trabalho forçado aos pobres.

Na sequência, a autora salienta a importância de compreender que a acumulação do capital, segundo Marx, ocorre de forma “muda, silenciosa”, torna-se então, algo naturalizado no seio das relações sociais, que por Marx se trata das “leis naturais da produção”.

No envolver da produção capitalista desenvolveu-se uma classe que trabalhadores que, por educação, tradição e hábito, reconhece as exigências desse modo de produção como leis naturais e evidentes por si mesmas. [...] a coerção muda exercida pelas relações econômicas sela o domínio do capitalistas sobre o trabalhador. A violência extraeconômica, direta, continua, é claro, a ser empregada, mas apenas excepcionalmente. Para o curso usual das coisas, é possível confiar o trabalhador às “leis naturais da produção”. (Livro I, p. 808-9)

Onde está presente “a violência da acumulação primitiva”?
Segundo a autora, antes do capitalismo se estabelecer como sistema hegemônico, ainda no sistema feudal, em tempos de “pré-capitalismo”, os servos se encontravam em posição de dependência pessoal. Experimentavam a “Violência extraeconômica direta”, isto é, a obrigação de ceder parte de sua colheita ao senhor feudal e permanecer naquele lote de terra, além disso, o senhor feudal tinha o direito ao uso da violência para reclamar o servo caso fugisse etc.

(Mais Marx, p. 142)
Em: “História do capitalismo”, de Hobsbawm, Lefebvre e Trevor- Roper², a relação de dependência dos servos aos senhores feudais, é chamada de “segunda escravidão”, ou seja, os camponeses rendeiros, que antes, se encontravam livres, passam a serem impostos a servidão pessoal, procurando produzir em grandes quantidades para o mercado exterior. As relações de exploração abordados no trecho mencionado, se dão ainda em tempos de “pré-capitalismo”, são fatores que contribuíram para a “instauração”, assim por dizer, do sistema capitalista, e os fatores são chamados de “estabilização da sociedade camponesa” (História do capitalismo, p.31) 

[...] Na exploração típica da Itália central, toda a família do parceiro está obrigada a a reservar seu trabalho para cultivar o domínio do senhor sob a vigilância do proprietário, que toma o direito de reservar a vida, inclusive a íntima, desta família às necessidades da produção. (História do capitalismo, p.33)

A “violência extraeconômica” entra em cena, quando as regras deste sistema são descumpridas, não é preciso "fazer greves", em relação aos trabalhadores. A “violência extraeconômica” passa a exercer sua força, pelo simples fato de um trabalhador deixar de reconhecer o sistema de propriedade. 
Marx, tece uma trama da acumulação primitiva, passando pelo desenvolvimento do capitalismo até seu futuro fim.
Para a autora, Marx define a acumulação primitiva sendo “uma negação da negação”: a “negação” da propriedade pré-capitalista pelo capital é seguida pela “negação” do modo de produção capitalista pela classe trabalhadora (Mais Marx, p. 142).






¹ Lutas de classes na Alemanha. Editora: Boitempo, 2010. Página 30.
É importante salientar que, o pauperismo citado nesta obra, é em relação ao governo prussiano, onde o mesmo colabora para que o pauperismo permaneça (aconteça).
² História do capitalismo. Hobsbawm, Lefebvre e Trevor- Roper. Editora: Eldorado, 1975. 2ª edição. Páginas utilizadas: 31-33.





HISTÓRIA DO CAPITALISMO. HOBSBAWM, LEFEBVRE E TREVOR-ROPER. EDITORA ELDORADO, 1975. - PÁGINA 31-32.
LUTAS DE CLASSES NA ALEMANHA. EDITORA: BOITEMPO, 2010- PÁGINA 30.
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