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A CIDADE E O CAOS

A CIDADE E O CAOS

Ilustração do artista: Tavarez
Ontem ao assistir uma reportagem sobre os grandes centros urbanos, hoje tive a ideia de fazer esta postagem e falar um pouco dos grandes problemas urbanos de nosso país. Utilizo as ideias do grande Milton Santos em seu livro À urbanização brasileira, em particular, A cidade caótica.


A CIDADE CAÓTICA

Com a diferença de grau e intensidade, todas as cidades brasileiras exibem problemáticas parecidas. Seu tamanho, tipo de atividade, região em que se inserem etc. são elementos de diferenciação, mas, em todas elas, problemas como os do emprego, transporte, lazer, saneamento, educação, moradia, poluição, pobreza, segregação espacial, revelam enormes carências.
Quanto maior a cidade, mais visíveis se tornam essas mazelas. Mas essas chagas estão em toda parte. 


A organização interna de nossas cidades, grandes, pequenas e médias, revela um problemas estrutural, cuja a análise sistêmica permite verificar todos os fatores mutuamente se causam, ou seja, um problema de habitação vai gerar consequências em outros como saneamento básico, transporte, violência e etc.


O por quê disso tudo?
O capitalismo monopolista agrava a diferenciação quanto à dotação de recursos, uma vez que parcelas maiores da receita pública se dirigem à "cidade econômica" e pouco é investido na "cidade social".


A cidade para poucos: breve história da propriedade urbana no Brasil, por: João Sette Whitaker Ferreira

As cidades brasileiras são hoje a expressão urbana de uma sociedade que nunca conseguiu superar sua herança colonial para construir uma nação que distribuísse de forma mais equitativa suas riquezas e, mais recentemente, viu sobrepor-se à essa matriz arcaica uma nova roupagem de modernidade “global” que só fez exacerbar suas dramáticas injustiças. Pesquisas de várias instituições indicam que as grandes metrópoles brasileiras têm em média entre 40 e 50% de sua população vivendo na informalidade urbana.




HARVEY: “Urbanização incompleta é estratégia do capital”
O interesse que o capital tem na construção da cidade é semelhante à lógica de uma empresa que visa ao lucro. Isso foi um aspecto importante no surgimento do capitalismo. E continua a ser. Após Segunda Guerra, por exemplo, os Estados Unidos construíram os subúrbios de uma maneira muito rentável. O que temos visto, nos últimos 30 anos, é a reocupação da maioria dos centros urbanos com megaprojetos. Muitos desses projetos associam a urbanização ao espetáculo. E fazem um retorno à descrição de Guy Debord sobre a sociedade do espetáculo. Faz todo sentido na diretriz da realização dos megaeventos como as Olimpíadas e a Copa do Mundo. O capital precisa que o estado assegure essa dinâmica. Assim, pode usar esses eventos como instrumentos de investimentos e mais lucratividade. Invariavelmente, entre as consequências dos megaeventos estão as remoções de pessoas de algumas áreas. Eles dependem disso para serem realizados. E essa situação tem causado revolta. 
De um lado, o capital vai muito bem, mas as pessoas vão mal. Há alguma geração de empregos, em função dos megaprojetos e megaeventos, mas o que se vê é o desvio da verba pública para apoiar essas empreitadas. Ao redor do mundo, tem havido muitos protestos devido à retirada de pessoas de suas residências. As populações percebem que o dinheiro dos impostos está indo para esses fins, em detrimento da construção de escolas e hospitais. Este é um contexto que ilustra como o capital gosta de construir as cidades, à diferença do que é a cidade em que as pessoas podem viver bem. Há um abismo entre essas duas propostas. 
Essa é a grande briga, porque enquanto o capitalismo quer desapoderar pessoas, a fim de reproduzir a si próprio, elas querem verbas para outras coisas. O grande problema é que a tendência é a dominação do capital sobre o poder político nas cidades. O financiamento das campanhas políticas é um instrumento para que isso aconteça. Trata-se de controle sobre a representação política. Essa lógica tem ocorrido em vários lugares do mundo, não só na viabilização de megaeventos no Brasil. Trata-se de um processo padrão. Remete à Coréia do Sul, em Seul (Olimpíadas de 1988). E também à Grécia. Se pensarmos na Grécia hoje, um país que sediou as Olimpíadas (Atenas, em 2004), vemos que esses eventos não costumam trazer grandes benefícios econômicos. O país está numa profunda crise econômica. Há grandes estádios construídos mas, a longo prazo, essas edificações gigantes não trazem vantagens para o país.







Texto e organização: Fernanda E. Mattos, autora e colunista do Blog um quê de Marx. 
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