Principal indicador econômico há
quase um século, seria o PIB (Produto Interno Bruto) a melhor forma de medir o
êxito de um país?
Em outras palavras, o PIB - que nasceu nos anos da Grande Depressão (anos 1930) e da Segunda Guerra (1939-1945) para mensurar o tamanho e a riqueza de uma economia - está irremediavelmente viciado como uma medida do bem-estar humano. E cada vez mais ele é questionado.
Em outras palavras, o PIB - que nasceu nos anos da Grande Depressão (anos 1930) e da Segunda Guerra (1939-1945) para mensurar o tamanho e a riqueza de uma economia - está irremediavelmente viciado como uma medida do bem-estar humano. E cada vez mais ele é questionado.
A ONG Social Progress Imperative,
liderada pelo economista Michael Porter, da Universidade de Harvard, sugere uma
revisão do índice. Não se trata de enterrar de vez o PIB, mas de complementá-lo
com um índice que mede tudo, menos o rendimento econômico.
"Se você eliminar os indicadores
econômicos", diz Michael Green, diretor executivo do grupo, é possível
"ver a relação entre o progresso econômico e social e entendê-lo muito
melhor".
Medindo o progresso social
Green, que por muitos anos estudou o
desenvolvimento internacional, propôs no Fórum Econômico Mundial um novo
índice, juntamente como o diretor do escritório americano da revista britânica The
Economist, Matthew Bishop.
O mecanismo em questão é o Índice de
Progresso Social (SPI, na sigla em inglês), que começou colhendo informações de
54 diferentes indicadores de bem-estar, tais como o acesso às escolas, cuidados
de saúde, um meio ambiente limpo, saneamento e nutrição.
Em termos gerais, todos giram em
torno de três perguntas:
1. O país pode prover as necessidades
mais básicas de seus habitantes?
2. Foram dadas as bases de
sustentação para que pessoas e comunidades consigam melhorar seu bem-estar de
forma sustentável?
3. Existem oportunidades para que
todos os indivíduos consigam alcançar seu máximo potencial?
Quanto mais escuro um país no mapa,
maior seu progresso social
Não há muita surpresa no topo da
lista que engloba 132 países. As primeiras dez posições são ocupadas por todos
os países nórdicos, além de democracias liberais, como Nova Zelândia, Austrália
e Canadá.
Em seguida, no segundo nível da
tabela, estão cinco membros do G7: Alemanha, Reino Unido, Japão, Estados Unidos
e França.
O ponto forte do Japão, por exemplo,
está no fato de o país conseguir prover as necessidades básicas de seus
cidadãos. O país, no entanto, fica abaixo da média de bem-estar e oportunidades
e tem baixa pontuação no quesito tolerância e inclusão.
Já os Estados Unidos ocupam a posição
23 na categoria de provimento de necessidades básicas, más é o quinto país
quando se fala em oferecer oportunidades. Apesar de ser o país que mais gasta
com atenção médica no mundo, os Estados Unidos também não se saíram bem na
categoria esperança de vida.
O Brasil, por sua vez, está na
posição 46 entre os 132 países. Quando comparado a outros países de renda per
capita semelhante (como Irã, África do Sul, Sérvia, Venezuela, Argentina,
Tailândia, entre outros), o país se sai melhor em quesitos como liberdade de
expressão, tolerância e acesso à saúde básica, mas vai pior nos rankings de
violência, saneamento e acesso ao esnino universitário.
A violência elevada no Brasil reduz o
progresso social do país, aponta o novo índice
Primavera árabe
Ainda que boa parte da informação
coletada ainda precise ser processada para que se extraiam conclusões mais
significativas, o índice já nos dá algumas lições interessantes sobre a
distinção entre estruturas econômicas e sociais.
"Tomemos como exemplo a
primavera árabe", diz Green. "Há um grupo de países que estavam indo
muito bem economicamente e, de repente, ocorre um colapso social",
argumenta.
"Claramente uma política baseada
apenas no crescimento econômico não funcionou, a ponto de gerar uma anomia
social", diz.
Mas é só passar o olho no índice SPI
para ver que esse descontentamento poderia ter sido previsto.
"Todos os países da África do
Norte tem um desempenho muito ruim na categoria oportunidades", avalia
Green.
"Não se travam precisamente de
necessidades materiais, mas sim a oportunidade de avançar na vida: direitos,
liberdades, opções, tolerância e inclusão", dzi.
"Liberdade", disse uma vez
o líder trabalhista inglês Nye Bevan, "é o subproduto do excedente econômico".
O índice SPI, no entanto, contradiz parcialmente essa teoria.
Apesar do crescimento econômico,
falta liberdade em países como o Egito
Ainda que SPI mostre que a pobreza
extrema e o desempenho social deficiente caminhem de mãos dadas, a correlação
perde o sentido quando os países alcançam um determinado nível de prosperidade.
A parte de baixo da tabela está
dominada por economias em aperto, mas países ricos em petróleo como Rússia e
Arábia Saudita também tem desempenho muito precário em termos de
desenvolvimento social.
Nova Zelândia e Itália, que estão
próximas em termos de PIB, estão separadas por 29 posições na tabela do SPI.
'Destino'
Em outras palavras, para Green
"o PIB não é o destino". Já houve várias tentativas de complementar
ou substituir o PIB. A ONU, por exemplo, desenvolveu o IDH, Índice de
Desenvolvimento Humano.
Recentemente, um ex-alto-funcionário
britânico, Gus O'Donnell, publicou um relatório sobre bem-estar e política,
investigando os principais motores econômicos, sociais e pessoais da
felicidade.
O ponto forte do SPI, segundo Green,
é a diversidade de indicadores que leva em consideração e o fato de que todos
eles, da tolerância religiosa ao abastecimento elétrico, podem ser comparados
com o crescimento do PIB.
Analisar dentro do SPI os indicadores
que têm relação com o aumento da felicidade poderia dar pistas sobre o
desenvolvimento das nações.
Paraguai
Mas nem todos estão de acordo com a
ideia de que o PIB não mede o bem-estar. Nick Oulton, da London School of
Economics, argumenta que o crescimento econômico pode ser uma boa medida de
bem-estar de um país.
"Não vai resolver todos os
problemas, mas o aumento da riqueza pode levar à queda na mortalidade infantil,
ao aumento da expectativa de vida e a que as pessoas sejam mais saudáveis
porque podem comer mais", diz.
Oulton vai além e diz que há o risco
de o grupo dos anti-PIB de "incitar políticas intrusivas". É como se
estivessem dizendo: "Você acha que sabe o que é o melhor para você, mas
nós sabemos mais".
Em última instância, o êxito do SPI
será medido por sua influência na tomada de decisões políticas.
Algum países já estão tomando nota.
Em julho do ano passado o Paraguai se tornou o primeiro país a usar
oficialmente o SPI para fundamentar a tomada de decisões políticas.
Mas a real utilidade do SPI vai se
dar quando se puder compará-lo com outros dados. Comparar o SPI e os gastos
públicos, por exemplo, pode ajudar a resolver o debate sobre o Estado mínimo ou
o Estado grande.
Outra prova da utilidade seria a
medição da desiguladade da renda em comparação ao progresso social para
comprovar a "hipótese da desiguladade": Mais igualdade de renda
significa mais saúde e felicidade?
O QUE FICA COMO REFLEXÃO É QUE UM RÁPIDO CRESCIMENTO ECONÔMICO NÃO SIGNIFICA, NECESSARIAMENTE, MELHOR QUALIDADE DE VIDA.
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Fonte do texto: BBC BRASIL, clique aqui e acesse.
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