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FOME: "A negação do malthusianismo"

A FOME NA IDADE MÉDIA

Imagem ilustra a Peste Negra.

Ao crescimento em termos econômicos e demográficos que a Europa sentira após o ano mil, seguiu-se um violento abalo desta estrutura a partir de finais do século XIII que só findaria no século XV. Trata-se de um período marcante, pois significa o advento do Renascimento e o aparecimento do Estado moderno. A fisionomia da Europa modifica-se em consequência das fomes, pestes e guerras que agitaram os poderes tradicionais e fizeram emergir novas formas de poder no Velho Continente, enquanto se perdia o último vestígio da Antiguidade com a queda do Império Romano do Oriente (1453, tomada de Constantinopla pelos turcos).

Na sociedade feudal a fome era vista como "uma doença", uma praga e não se buscava compreender os fenômenos sociais que levavam ao fato da morte. Até meados do século passado a fome ainda tinha essa caracterização, era considerada como "um fator natural", sendo necessária para "regular" o contingente populacional (ler mais sobre: "seleção natural de Thomas Malthus).

A crise começou a sentir-se no mundo rural, onde as crises de subsistência se tornaram comuns.  Tal facto deveu-se a sucessivas alterações climáticas as quais diminuíram drasticamente a produção de alimentos numa Europa sob forte pressão demográfica devido ao surto de progresso após o ano mil. 
Como não era possível recorrer a importações nem era grande o número de excedentes, a fome foi uma consequência imediata e depois única, tendo sido particularmente grave durante o período de 1315 a 1317. Além das vítimas mortais, a carestia trouxe também o enfraquecimento das defesas do organismo, facilitando a disseminação das doenças, peste encontrou um campo fértil para também se propagar: a fome. 
- Entre 1315 e 1317,a produção agrícola,que já era insuficiente,ficou ainda mais distante das necessidades alimentares da população.
- O esgotamento do solo, as violentas chuvas que castigaram a Europa em 1314 e 1315 e o clima mais frio foram as principais razões das más colheitas. A epidemia encontrou a população desnutrida,com o sistema de defesa do organismo fragilizado contra doenças.
- As más colheitas fizeram aumentar o preço dos cereais, principalmente do trigo, e o banditismo cresceu.
- A população urbana sofria com o desabastecimento e alguns banqueiros faliram. 
- Os senhores feudais passaram a explorar mais intensamente os camponeses.

- A crise atingiu todas as camadas sociais.



MALTHUSIANISMO
Em Londres, Thomas Malthus diante de uma drástica miséria, onde famílias numerosas estavam imersas na fome e subnutrição, o pastor Malthus procurou uma justificativa para esses fatos, como justificar então a falta de alimentos à todos? No ensaio sobre o princípio da população" Thomas afirma que o problema  do abastecimento alimentar era devido ao número maior de pessoas do que a disponibilidade dos alimentos, sendo que o ser humano se reproduz em maior quantidade do que a produção de alimento [...] "a tendência constante de todos seres vivos é a que leva os homens a aumentar sua espécie além dos recursos alimentares" (The crises, 1796).
Nos próximos anos Malthus "mistura" sua teoria com tendências e aspectos religiosos, como  na "Lei da necessidade", relacionando a existência humana com a vontade divina, onde a totalidade das coisas jamais serão em abundância. "O criador benévolo, que conhece o apetite
 as necessidades de suas criaturas conforme as leis que as submetem, não quis em sua misericórdia oferecer-nos todas as coisas indispensáveis a vida".
Para nossos tempos, soa um tanto absurdo as considerações de Malthus, mas na época de suas ideias e publicações o autor foi muito bem aceito por várias nações, que fizeram de suas teorias a justificativa da fome e subnutrição. Para Malthus a fome ocorre como um processo natural, servindo de regulador populacional, responsável então por reduzir o número de indivíduos e esse "modo de selecionar quem vive e quem morre", era a única saída para evitar a falta de alimentos "[...] a fome resultaria como lei da necessidade". A verdadeira ameaça era a do crescimento demográfico. Sem a eliminação dos mais fracos pela fome, chegaria um dia sobre a terra que nenhum ser humanos poderia haver de comer.
(Curvas de crescimento das populações e dos recursos segundo Malthus)
Para a teoria malthusiana a proporção do número populacional cresce em desmedida a produção de alimentos. A população cresceria de forma mais intensa do que a proporção e produção de alimentos.
É inadmissível, em pleno século XXI admitir tais considerações acerca da fome, é preciso voltar os olhos para a questão social dos fatos e não aceitar a fome sendo um processo natural. Por mais que incoerente tenha sido a teoria de Thomas Malthus, o mesmo teve forte influência na sua época, sendo aceito por vários Estados que fez desta teoria políticas de controle populacional.

NEOMALTHUSIANISMO
É uma teoria que começa a se desenvolver nas primeiras décadas do século 20, baseada no pensamento de Malthus, razão pela qual passou a ser denominada de neomalthusiana.
O neomalthusianismo somente se firmou entre os estudiosos da demografia após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), em função da explosão demográfica ocorrida nos países subdesenvolvidos. Esse fenômeno foi provocado pela disseminação, nos países subdesenvolvidos, das melhorias ligadas ao desenvolvimento da medicina, o que diminuiu a mortalidade sem, no entanto, que a natalidade declinasse.

Os neomalthusianos analisam essa aceleração populacional segundo uma ótica alarmista e catastrófica, argumentando que, se esse crescimento não for impedido, os recursos naturais da Terra se esgotarão em pouco tempo.









Postagem baseada na obra: Destruição em massa, a geopolítica da fome. Jean Ziegler- Editora Cortez. Texto síntese: blog um quê de Marx.


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