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CAPITALISMO E EDUCAÇÃO: "Educar para além da lógica global"

Crítica aos intelectuais da educação e seus pensamentos reformistas. 
"A educação para além do capital" é uma excelente crítica de István Mészáros para compreensão da lógica global e sua influência (consequências) na educação, tal lógica também pode ser chamada de (neo)liberalismo econômico, capitalismo entre outros termos. 

Mészáros, no primeiro capítulo, defende a ideia uma mudança radical na estrutura vigente, para que não haja possibilidades das das mesmas "continuarem intactas", não há espaço para reformas, a mudança deve ser drástica, pois o "reformismo "remete a continuação da ordem e não  o que muitos intelectuais defende e acreditam: que haverá que haverá radical transformação.

O autor nos atenta ao fato de que, tal "ordem global" acaba sendo despercebida por uma grande  parcela da população, onde muitos não conseguem enxergar ou discernir "a mão invisível do mercado" agindo, ditando regras, leis, nas quais influenciam drasticamente a educação e como consequência, acaba por também nos atingir.

Para resumir e explicar essa "fórmula" global, convido a vocês leitores a refletir, partindo da seguinte analogia: 

"Imaginemos que o sistema cria uma ordem geral (pré-estabelecida) e nós estamos sob influência da mesma, e as consequências não são positivas, é como se essa ordem e leis gerais, fossem uma espécie de "máquina de criar conformidade", e sua função é homogeneizar e estabilizar a sociedade, a estrutura social, econômica, política e as formas que lhe apresentam como oposição devem ser imediatamente eliminadas. A ordem segue exercendo a ordem como "status da conformidade" e desta forma,  a força hegemônica prossegue exercendo o seu domínio.

EDUCAÇÃO INSTRUMENTO UNIPRESENTE DAS PRESSÕES EXTERNAS

"A lógica exclui a possibilidade de legitimar o conflito entre as forças hegemônicas (de um lado), em defesa de uma ordem social, e de outra as alternativas viáveis (força opositora) para a possível saída da "lei global". É preciso que tenhamos a plena consciência  de que o sistema econômico vigente tem total interferência nas diretrizes educacionais e as consequências talvez sejam "impossível de serem corrigidas ou reformadas, como muitos acreditam".

Bem, eu poderia encerrar esse primeiro resumo desta obra por aqui, mas sinto necessário comentar algo sobre as ações e consequências diretas geradas pelo liberalismo econômico sobre a sociedade.

O PROCESSO DE DESSIMBOLIZAÇÃO¹

No processo de "dessimbolização" ocorre a "criação" de um novo sujeito "acrítico", psicopata, um sujeito "aberto" para receber todas as coerções do mercado. Mas claro se deve levar a consideração e o cuidado de não generalizar, pois nem 100% se tornam este "novo sujeito", mas o que o autor quer nos fazer consciente é sobre o fato que a tendência é cada vez mais influente, uma nova formação do indivíduo, portanto "nem todos vão se tornar loucos", mas o autor assegura que os promotores do capitalismo agem para o surgimento massivo desses "novos" sujeitos, "mergulhando-os num mundo sem limites, um sujeito aberto a qualquer intervenção"²Acredito que agora consigam discernir corretamente as consequências e tenho a total certeza que até deva identificar em seu cotidiano "esse tal novo sujeito", fruto das ambições da ordem econômica vigente. 

Como já mencionado, o estrago da ordem geral é "tremendo" e faço a seguinte indagação: seria a educação tal arma para a destruição deste sistema massificador? Sim. Outra vez pergunto: mas como transformar pelo viés educativo sendo que a própria educação se faz "escrava" destas leis? Eis a chave da crítica de Mészáros, "as determinações gerais do capital afetam cada âmbito particular com alguma influência na educação e de forma nenhuma apenas as instituições educacionais formais. Esta são estritamente integradas na totalidade dos processos sociais. Não podem funcionar adequadamente exceto se estivessem em sintonia com as determinações educacionais da sociedade como um todo" [...]
Para nós marxistas a prática é transformadora, ela é o fio condutor das mudanças, mas alterar a ordem vigente é um processo complexo e "impossível", não é ser pessimista, mas com reformas não se muda o sistema, apenas realiza algumas alterações e o mascara e as coisas continuam sendo as mesmas. Necessita-se de transformações radicais, principalmente no setor educacional, reformar não altera a os problemas acumulados entre os anos, até porque até hoje não se erradicou os erros e as mazelas da educação com reformas. 

Novamente reafirmo na necessidade de haver plena consciência da atuação da ordem capitalista no cenário global, é fundamental ter esta devida consciência para a luta em defesa de uma "outra forma de ensino", a luta nunca foi fácil e bem sucedida, resta saber o que está por vir. Mas que não percamos a esperanças e a coragem para denunciar e lutar de forma antagônica a esse sistema massificador e alienante.




A incorrigível lógica do capital e seu impacto sobre a educação. Devido a tal fato, se faz necessário romper com a lógica do capital se quisermos contemplar a criação de uma alternativa educacional significativa diferente.




¹Baseado em Dany-Robert Dufour "A arte de reduzir cabeças", Dufour evidencia o tema central de sua obra, seria então, o neoliberalismo a tal arte responsável por reduzir o pensamento dos indivíduos, nas palavras do autor: [...] o neoliberalismo é a arte de reduzir cabeças, responsável pela redução dos espíritos [...] a inteligência do capitalismo se pôs a serviço da “redução das cabeças”. Para acessar a postagem clique aqui² "Os sujeitos do neoliberalismo", para acessar esta postagem, clique aqui.
Texto baseado na obra: A educação para além do capital"- István Mészáros. Texto Síntese:Fernanda e. Mattos, autora e colunista do Blog um quê de Marx. É permitido o compartilhamento desta publicação e até mesmo a edição da mesma. Sem fins lucrativos e cite a fonte. Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.
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