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"O mundo multicultural é inevitável''- Charlie Hebdo, o Islã e o Ocidentalismo, uma análise para além dos simples fatos



Julgo a atualidade do atentado em Paris como um fato resultante do ''choque que existente entre civilizações'', onde é preciso ter uma análise NÃO simplista dos fatos, levando em consideração aspectos históricos do cenário mundial, é isso que este texto propõe.
Para que não haja más interpretações de minhas palavras, já afirmo que o intuito deste texto não é defender atos extremistas, muito menos o terrorismo, sinto que há uma profunda necessidade de deixar explícito, o que está por trás de todo estes acontecimentos, principalmente em relação ao sensacionalismo que vem sendo feito pela mídia ocidental, que aqui consideramos sendo uma forma oportunista de divulgar os acontecimentos. 
O texto de Leonardo Boff foi decisivo para a tomada de iniciativa em explorar mais o assunto e fazer a conexão deste acontecimento com as ideias de Samuel Huntington, em sua obra "Choque de civilizações". 
Ontem (11 de janeiro de 2015), a hipocrisia e oportunismo , tomou as ruas de Paris, com o grito em massa em apelo "a liberdade, igualdade e fraternidade". Onde o povo, juntamente aos líderes políticos (e entre outros representantes) saíram em protesto ao atentado terrorista na sede dos cartunistas franceses. Reafirmo, aqui NÃO se defende atos extremistas, nenhum cartunista mereceu ser moto, aliás, nenhum ser humanos merece perder sua vida, ainda mais sob estas condições.
Vejamos... uma coisa engraçada de todo este oportunismo é que a mídia (golpista) internacional esquece de mencionar que alguns membros que compuseram a marcha, são de certa forma outros terroristas até porque o imperialismo também é uma forma de terrorismo. 
A crítica que faço é especialmente em relação ao "sensacionalismo barato" que a mídia mundial e as nações imperialistas (ocidentais) estão fazendo a respeito do atentado e isto me soa como uma espécie de fomento a xenofobia, vejo em toda essa indignação um oportunismo muito grande, onde o ocidente incita o ódio e o medo do Islã. A ideia é mais ou menos a seguinte: "vamos pregar que o perigo do mundo está no islã'' e assim iniciam seus planos imperialistas, aplicando sanções e políticas contra a população islã na França. E o pior é que outros países tomam isso como espelho, que é o caso da Inglaterra, onde em alerta total comunica a população de perigo terrorista.



Tudo que aqui esta sendo dito é o que anda acontecendo pelos dias que precedem o atentado (nada está sendo inventado) e nós identificamos no discurso francês uma carga muito grande de intolerância, destaco abaixo um trecho do texto  de Leandro Boff acerca do nacionalismo e xenofobia francesa.

'Voltando à França, hoje temos um país de luto. Porém, alguns urubus são mais espertos do que outros, e já começamos a ver no que o atentado vai dar. Em discurso, Marine Le Pen declarou: “a nação foi atacada, a nossa cultura, o nosso modo de vida. Foi a eles que a guerra foi declarada”. Essa fala mostra exatamente as raízes da islamofobia. Para os setores nacionalistas franceses (de direita, centro ou esquerda), é inadmissível que 10% da população do país não tenha interesse em seguir “o modo de vida francês”. Essa colônia, que não se mistura, que não abandona sua identidade, é extremamente incômoda. Contra isso, todo tipo de medida é tomada. Desde leis que proíbem imigrantes de expressar sua religião até… charges'' 

Acompanhe a notícia abaixo:



Eis o ponto fundamental de nossa crítica: Até aonde vai o luto? Em qual ponto ele se traveste de fobia ao islã e fomento ao ódio?

As relações entre as civilizações e seus Estados-núcleos são complicadas, muitas vezes ambivalentes, e de fato se modificam. A maioria dos países numa mesma civilização geralmente seguirão a liderança do Estado-núcleo no desenvolvimento de suas relações com os países de uma mesma civilização.
O que se precisa entender é que "esse choque entre culturas e religiões" ocorreu em todo desenvolver histórico das sociedades. Samuel Huntington em sua obra  "Choque de civilizações" aponta o islã como futura civilização com mais contingente populacional, isso logo, é uma ameaça a civilização ocidental, isso justifica "o choque civilizacional".
Os países ocidentais deveriam aceitar de uma vez por todas que se é impossível haver um mundo de um só império global, aceitem, ''o mundo multicultural é inevitável'' (Samuel Huntington, p. 550). Caso os ocidentalistas não aceitem esta condição da realidade, a segurança das civilizações estarão ameaçadas, a não aceitação de um mundo multi cultural, nos leva a acontecimentos como este ou até tragédias maiores.

"No nível micro, as linhas de fratura mais violentas estão entre o Islã e seus vizinhos ortodoxos, hindus, africanos e cristãos ocidentais. No nível macro, a divisão predominante está entre o 'Ocidente e o resto', com conflitos mais intensos ocorrendo entre a sociedade muçulmana e asiática, de um lado, e o ocidente do outro" (Samuel Huntington, p. 303).

Assim como propõe Samuel, o ''meu grito'' é em defesa do multiculturalismo, sendo que, só haverá um caminho construtivo caso haja a tolerância cultural. É fundamental dizer NÃO ao universalismo e aceitar a diversidade para que possamos buscar os aspectos em comum e que tal começarmos pelo principal: "Somos de apenas uma condição humana e essa deve ser universal".

Somos todos contra o radicalismo e suas formas de terrorismo...Não somos Charlie Hebdo, porque não somos xenofóbicos e criticamos o humor ofensivo...Somos em defesa da condição digna de todo ser humanos poder exercer sua liberdade, indispensavelmente, a condição religiosa de forma não conflituosa.




Texto: Fernanda E. Mattos, colunistas e autora do blog Um quê de Marx. Texto baseado na obra: Choque de civilizações, de Samuel Huntington. Editora: Ponto de Leitura. Referência das notícias: Texto de Leonardo Boffe, clique aqui e acesse. 
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