A BASE DA PIRÂMIDE- "Quem está no topo quer ser o eterno senhor de engenho, e quem está na intermediária não abre mão de ser capitão do mato e a base permanece acorrentada"
A BASE DA PIRÂMIDE
"Quem está no topo quer ser o eterno senhor de engenho, e quem está na intermediária não abre mão de ser capitão do mato e a base permanece acorrentada"
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A clássica "Pirâmide do Sistema Capitalista", publicada em 1911 no jornal estadunidense "Industrial Worker". O gráfico "O Capitalismo é um Esquema em Pirâmide" revisita a clássica ilustração, atualiza o esquema para o contexto atual e argumenta que a estabilidade capitalista só pode ser obtida pelo uso de cada vez mais recursos, "colonizando novos continentes, forças de trabalho e aspectos das nossas vidas. (...) Somos estimulados a competir uns com os outros para melhorar nossas posições individualmente. Mas não há espaço suficiente para todos nós no topo, não importa o quanto a gente trabalhe
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A felicidade é o objetivo supremo de cada indivíduo. Pretendeu-se, dentre outras coisas, quando se pensou no conceito de liberdade, no século XVIII, que esta criasse as condições para que os homens buscassem a felicidade através do desenvolvimento de suas aptidões, visando sua participação na vida política. Idealizou-se que o Estado não deveria interferir na iniciativa individual, limitando-se a garantir outros serviços considerados essenciais à coletividade. A livre concorrência, associada às aptidões pessoais dos indivíduos, se encarregaria de harmonizar a vida em sociedade.
A ideologia liberal
Ocorre que essa tal liberdade, após a derrubada do Antigo Regime, na prática não se associou aos outros dois conceitos que também moveram o pensamento iluminista: a igualdade e a fraternidade. E assim sendo, uma vez que nem todos tiveram as mesmas oportunidades e condições de poder competir, a renda e as riquezas concentraram-se nas mãos de minorias, que, movidas pela mesma liberdade, passaram a explorar a todos os demais.
E assim configurou-se a sociedade atual. Poucos têm tudo, alguns têm alguma coisa, e a imensa maioria nada tem; sendo certo que o muito dos poucos é proporcionado pelos braços da maioria da base da pirâmide social. Mas a teoria diz que todos têm liberdade.
E configurou-se, pois, a moderna pirâmide social. Quem está no topo precisa pisar firme naqueles que estão na posição intermediária, pois esta é composta pelos que estão mais próximos de tomar-lhe o poder chegando ao cume. E os que estão na posição intermediária, ao mesmo tempo que se agarram às pernas dos que estão em cima, tentando a todo momento puxá-los para baixo, precisam calcar aqueles que estão na base, para impedir que estes consigam subir uma posição e igualmente briguem pelo topo.
Como a base é mais larga e muito mais numerosa, é preciso mantê-la pacificada, pois uma revolta pode significar a queda daquele que está no topo e a volta dos da intermediária ao solo. Todos no chão, igualdade de condições. Em outras palavras, isso significa revolução. Essa ideia tem que ser mantida escondida. E uma forma fácil é "demonizando-a", doutrinando os indivíduos, mantendo-os ocupados com preocupações menores.
E foi assim que o esquema da pirâmide social foi mantido. Quem está na base não pode ter a noção de que aquele que está em cima assim se mantém às custas de sua força, e de sua ignorância quanto ao esquema. Uma base sólida e forte mantém a estrutura injusta da pirâmide.
Toda política que visa melhorar a vida dos que estão na base, criando os meios e as condições necessárias para que ela tenha as oportunidades que historicamente lhe foram negadas, acaba sofrendo ódio justamente daqueles que situam-se no meio e no topo (talvez mais por parte dos da intermediária). Portanto, eu entendo como uma defesa natural a do indivíduo da intermediária o fato de ele rotular e ironizar as políticas que pretendem a justiça social e a inclusão. Afinal de contas, mais pessoas em condições de competir significa uma melhora no padrão de vida, o que, pelo menos em tese, pode implicar em uma diminuição significativa na incidência de braços escravos à sua disposição, sob suas ordens.
Não se almeja a igualdade, isso sempre causou repulsa às elites e à classe média. O darwinismo social, durante muito tempo, foi uma teoria propagada nos meios pseudo-intelectuais para se tentar justificar cientificamente as diferenças entre os homens, levando-se em conta a cultura e a etnia, sendo uma maneira de se eliminar qualquer remorso que eventualmente pudesse resultar da exploração, uma vez que pretendeu-se, com isso, afirmar que os mais pobres e toda e qualquer outra etnia considerada inferior nasceram para servir à classe dominante.
Quem está no topo quer ser o eterno senhor de engenho, e quem está na intermediária não abre mão de ser capitão do mato, havendo a necessidade, para a perfeita estruturação do esquema, de existir os da base e seus braços acorrentados, a serviço dos do topo, vigiados pelos da base.
Mas é sempre bom lembrar as palavras do eterno mestre Marx, a saber "Os trabalhadores não têm nada a perder em uma revolução comunista, a não ser suas correntes". Como ocorrerá a revolução? Pela força? Acredito que não. Os tempos mudam e por este motivo as ideias também precisam adaptar-se. A revolução certamente virá pela educação. Um povo instruído, educado e politizado jamais aceitará a exclusão, a exploração, as desigualdades, os mandos e desmandos dos opressores. A educação é o único abalo sísmico capaz de danificar a estrutura da pirâmide da injustiça. Educação deficiente aliada ao poder da mídia manipuladora e divulgadora de futilidades é a mistura que mais interessa ao topo e à intermediária da pirâmide: o status quo é mantido, sem questionamentos, pacificamente.
A prisão mais eficiente não tem paredes.
Texto: João Paulo da Cunha Gomes, colaborador do blog Um quê de Marx, formado em História pela Faculdade de Filosofica Ciências e Letras de São José do Rio Pardo e estudante de Direito pela UNIP - Universidade Paulista.
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